Por que é que, em Génesis 19:4-9 e Juízes 19:22-25, vemos Ló e o velho de Gibeá oferecendo suas próprias filhas virgens para serem abusadas pelos homens da cidade a fim de protegerem os visitantes que haviam acolhido? Será que as mulheres não tinham valor ou por que se importavam tanto com a segurança de visitantes desconhecidos?
Os episódios em Génesis 19 e Juízes 19 são marcados por uma situação trágica e perturbadora que desafia nossa compreensão ética e moral. Ambos os relatos mostram anfitriões que oferecem suas próprias filhas para proteger estranhos de uma multidão de homens violentos, levantando questões sobre o valor dado às mulheres e a razão pela qual a protecção dos visitantes era tão prioritária. Para entender isso, precisamos considerar o contexto cultural e as normas sociais do Oriente Próximo antigo, bem como a natureza da hospitalidade no Antigo Testamento.
Primeiramente, é importante destacar que a hospitalidade na cultura semítica antiga era considerada um dever sagrado e inviolável. Receber alguém em casa não era apenas um acto de cortesia; envolvia um compromisso de proteger o visitante, mesmo com a própria vida. Um anfitrião que recebesse um estrangeiro em sua tenda ou casa assumia a responsabilidade pela segurança e bem-estar dele, independentemente de quem fosse. Este princípio de hospitalidade pode parecer extremo para nós, mas, no contexto cultural da época, ele representava a honra e a integridade do anfitrião. Qualquer violação desse dever era vista como uma grave transgressão moral e social.
Além disso, os homens eram considerados a personificação do “visitante ideal” em comparação às mulheres, que eram tratadas como parte da família e muitas vezes vistas como propriedade do chefe da casa. Isso nos leva ao segundo ponto: a desvalorização das mulheres. Embora a Bíblia valorize profundamente a vida e a dignidade humana, as normas sociais e culturais da época refletiam uma visão patriarcal que dava menos valor às mulheres. Os homens ocupavam uma posição central nas questões de honra e dever, enquanto as mulheres eram muitas vezes marginalizadas ou tratadas como “peças de negociação” em situações extremas. Assim, a escolha de Ló e do velho de Gibeá de oferecer suas filhas, por mais abominável que nos pareça, pode ser vista como um reflexo triste do status cultural e da protecção que a sociedade atribuía aos homens em contraste com as mulheres. (Depois leia também: Como provar a veracidade da Bíblia?)
No caso de Ló, o horror do comportamento dos homens de Sodoma é enfatizado pela sua disposição em fazer uma escolha tão desesperada. Génesis 19:4-9 mostra que os homens da cidade estavam determinados a abusar sexualmente dos visitantes (que eram anjos disfarçados de homens). Ló, então, ofereceu suas filhas como alternativa na esperança de dissuadir a multidão, o que revela não apenas o seu desespero, mas também a gravidade da situação. Mesmo assim, a Bíblia não justifica o acto de Ló; pelo contrário, o relato revela a depravação moral de Sodoma e Gomorra e o estado desumano em que Ló se encontrava, tendo sido influenciado negativamente por viver em uma cidade tão perversa.
O episódio de Juízes 19 é ainda mais sombrio. Aqui, um levita e a sua concubina encontram refúgio na casa de um velho em Gibeá. Quando a multidão cerca a casa com a intenção de abusar do levita, o velho oferece sua filha virgem e a concubina do levita em troca, suplicando que deixassem o homem em paz. A história culmina com a violação brutal da concubina, que resulta na sua morte. Novamente, esse acto é um reflexo da decadência moral em Israel durante o período dos Juízes, um tempo descrito repetidamente como uma era em que “cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos” (Juízes 21:25). Essa história é um testemunho da violência e do desprezo pela vida humana, especialmente pela vida das mulheres, e serve como uma ilustração gráfica da degradação moral do povo de Israel. (Depois leia também: O perdão incomparável de Deus).
Portanto, a escolha de oferecer as filhas nesses episódios não representa a vontade de Deus, mas sim o extremo desespero de homens que se viam presos entre duas alternativas terríveis: entregar os estranhos que haviam recebido (violando um dever sagrado de hospitalidade) ou sacrificar o que lhes era mais precioso para proteger a honra de serem bons anfitriões. Essa ênfase na hospitalidade, por mais incompreensível que seja para nós hoje, era considerada uma questão de vida ou morte na época, refletindo normas sociais profundamente enraizadas e distorcidas.
A Bíblia não aprova essas actitudes. Esses episódios são narrados para expor a perversidade e a decadência de Sodoma e Gibeá, e não para serem tomados como modelos de comportamento. De facto, a Bíblia apresenta a dignidade e o valor das mulheres desde a criação, quando Deus cria homem e mulher à Sua imagem e semelhança (Génesis 1:27). Na perspectiva divina, todos têm valor igual, mas, infelizmente, o pecado distorceu essa verdade, levando a culturas que frequentemente desvalorizavam e oprimiam as mulheres.
No entanto, a hospitalidade radical de Ló e do velho de Gibeá, ao ponto de oferecer suas filhas, deve ser entendida dentro de um contexto histórico e cultural que não reflete o plano de Deus para o valor humano. Esses episódios expõem a profundidade do pecado e a depravação moral, mostrando que, quando a humanidade se afasta dos padrões de Deus, até mesmo os princípios mais sagrados se tornam distorcidos. Em última análise, essas passagens apontam para a necessidade de uma transformação interior que só é possível pela restauração que Deus oferece através de Cristo.
VAMOS ORAR?
Senhor, diante de histórias tão dolorosas e difíceis de entender, pedimos que nos dês sabedoria e discernimento para compreender a Tua Palavra em verdade. Ajuda-nos a ver o valor que colocaste em cada vida humana e a agir com compaixão e justiça. Que possamos refletir o Teu amor e respeito por todos, independentemente de género, cultura ou posição social. Em nome de Jesus, amém!
ANTES A MORTE EM BATALHA DE CRISTO, DO QUE NA LAMA COMO COVARDE MORRER (1 Pedro 3:17). ATÉ AQUI, PALAVRA DO SENHOR!
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